quinta-feira, 16 de março de 2017

A flor do poema se abrindo


É neste mundo que te quero sentir
É o único que sei. O que me resta.
Dizer que vou te conhecer a fundo
Sem as bênçãos da carne, no depois,
Me parece a mim magra promessa.
Sentires da alma? Sim. Podem ser prodigiosos.
Mas tu sabes a delícia da carne
Dos encaixes que inventaste. De toques.
Do formoso das hastes. Das corolas.
Vês como fico pequena e tão pouco inventiva?
Haste. Corola. São palávras róseas. Mas sangram.

Se feitas de carne.

Dirás que o humano desejo
Não te percebe as fomes. Sim, meu Senhor,
Te percebo. Mas deixa-me amar a ti, neste texto
Com os enlevos
De uma mulher que só sabe o homem.


Hilda Hilst; in Poemas Malditos, Gozosos e Devotos








(..)
Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.
Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

Fernando Pessoa;
 in Cancioneiro










[bendito o momento
em que o presente
me enche a boca]

segunda-feira, 13 de março de 2017

muito além das cidades




  0 desejo pousou neste instante na minha memória.   navalha de prata cortando o ar com seu significado. quem disse que as pessoas não se visitam à distância? momento mágico, um SOS telepático, visão impressionista, asas que passam, brisa que se desprende chegando à porta com orgulho de gato, escalando o silêncio com pés de veludo.



domingo, 12 de março de 2017

dentro sou tudo e nada






 e se enfim a vida
fosse filme
miopia era só estilo

(e há os que até não vêem)


mas o amor é agir





segunda-feira, 6 de março de 2017

E a gente se esbarra


tru:
“ Ren Hang
”






só eu sei dos tolos
que encontrei nos caminhos
só eu sei dos sonhos
que sonhei em pergaminhos
 mas o seu sorriso
salvou-me da agonia
e ainda hoje me lembra
a infância dos sonhos

[distantes todavia]